Sometimes it's hard to keep on running



Eu tenho picos de energia onde eu simplesmente não consigo ficar quieta no meu canto sem fazer nada. Eles vem do nada e vão embora do nada, eu geralmente não consigo prever e muito menos controlar. Sempre foi assim desde que eu me entendo por gente e acho que vai ser pra sempre. Quando eu terminei o meu primeiro namoro, lá em 2010, eu comecei a gastar essa energia sendo djóvem clichê: Saindo sexta feira de casa, me acabando de dançar na rua e voltando totalmente morta pra casa. Foi uma boa época e teria dado muito certo se eu - no fundo - não odiasse ficar fora de casa a noite.
Daí que lá pra 2011, quando eu já tava "sossegada" e num relacionamento marromeno estável (embora informal) com o Pirituba, eu comecei a procurar atividades pra gastar meu tempo elétrico.

E fui pra Yoga.

Eu queria ficar calma, eu queria fazer alguma atividade física, eu queria ser capaz de fazer algumas coisas com meu corpo que seriam interessantes pra minha nova vida de solteira e a Yoga parecia uma atividade que preenchia esses requisitos. Então, munida da minha carteirinha do clube, fui fazer uma aula de yoga.

No primeiro dia o "professor" implicou com minha respiração e disse que eu não sabia respirar - e, vamos combinar, se eu não soubesse MESMO respirar eu não teria vivido 26 anos nessa indústria vital - o que me deixou bem cabreira, porque... Né? Rapaz, não saber respirar é de uma incompetência ímpar.
Daí depois que eu aprendi isso (e, juro pra vocês, não foi tão fácil quanto eu esperava - mas isso provavelmente foi culpa também da minha dificuldade em aceitar que eu não sabia fazer um negócio tão básico e vital. Se eu tivesse sido mente aberta teria sido mais fácil!) as coisas ficaram melhores porque o resto é tudo questão de alongar, respirar, ficar uns segundinhos numa posição incomum e pá: Relaxamento, estralinhos pelo corpo e aquela sensação marota de que, caso você precise, saberá fazer algumas coisas sem sentir dor depois. Muito útil.

PORÉM...

Eu não tava acalmando. Eu não tava gastando minha energia acumulada. Eu não tava nem conseguindo botar minhas mãozinhas no pé estando em pé com as pernas totalmente esticadas - e talvez por isso eu não tava acalmando, aff.
E aí eu parei (por isso e porque decidi largar a faculdade de História e prestar vestibular de novo, né? Mas aí é outra história).

Nesse período eu tentei: Boxe, muay thay, aulas de forró, aulas de desenho e nada. Já tava achando que somente futebol, praia e F1 me dariam a tão necessária paz de espírito pros dias de pico de energia.


Eu comecei a correr em 2013, quando comecei a trabalhar na Cidade Universitária da USP e passava o dia inteiro lá, meio período trabalhando, meio período sem fazer nada e, à noite, estudando.
Nesse tempo que me sobrava entre o trabalho e a aula eu tinha várias opções: Estudar, ir ao cinema, me enrolar em algum puff na FFLCH e tirar uma soneca, dar um mergulho na piscina... Sei lá. Várias opções. A USP é um lugar maravilhoso onde eu consigo me ocupar o dia todo, se quiser.
Talvez não coincidentemente foi ao mesmo tempo em que comecei na terapia e comecei a perceber que meus picos de energia coincidiam com os momentos de emoção intensa que eu não conseguia demonstrar. Eu ficava muito feliz e ficava muito elétrica. Eu ficava muito irritada e ficava três vezes mais elétrica. Eu ficava triste e queria... ok, quando eu ficava triste eu só queria deitar na cama e assistir Star Wars, ou reler a saga Harry Potter. Mas todas as outras emoções intensas me faziam ter esses picos de energia.

Daí não sei o porquê, mas um belo dia na terapia eu voltei pro tempo do Ensino Médio em que eu ODIAVA ter que correr nas aulas de educação física porque não via sentido naquilo e entre várias das discussões a Terapeuta do Capeta meio que sugeriu que eu deveria tentar correr quando estivesse com raiva, nem que fosse pra passar mais raiva ainda e focar em alguma coisa que eu pudesse controlar (já que se eu estava com raiva por estar correndo sem sentido... A raiva passaria assim que eu decidisse parar de correr, veja bem). Fez sentido pra mim.


Desde então eu tenho fases de corrida. Nas férias, por exemplo, eu dificilmente saio pra correr. Agora, trabalhando feito uma mula, eu dificilmente saio pra correr. Mas em 2014 e, principalmente, em 2015, eu cheguei muito perto de sentir o que as pessoas chamam de BARATO DE CORRIDA: Eu saia praticamente todos os dias, nem que fosse por 30min, nem que fosse aqui na Vila, nem que fosse mais pra caminhar ao invés de correr e nem que eu tivesse que parar a cada 5min pra cumprimentar algum vizinho.

Mas eu não sou disciplinada com minhas corridas, sabe? Eu não tenho uma rotina de corrida, eu não conto o tempo, nem os quilômetros que fiz, nem tenho vontade de me inscrever em corridas de rua e essas coisas todas. Correr pra mim é um hobby, algo que eu ainda faço quando preciso liberar energia acumulada e que surpreendentemente me acalma - não mais substituindo uma raiva pela outra, mas me dando tempo pensar nas coisas que estão me irritando e fazer aquele famoso filtro de separar o que dá pra mudar e o que a gente só tem que aceitar mesmo e cabô (e, adivinhem: Quando eu falei isso pra terapeuta no ano passado a grandecíssima filha da mãe me deu um sorrisão e falou "Por que você acha que eu te falei pra fazer isso, kiridinha?" Uma grande escrota minha ex-terapeuta, né? Um beijo pra ela!). Então, de fato, a corrida me acalma.

E a grande liberação de endorfina não é mau negócio, te garanto. É maravilhoso chegar em casa depois de correr, tomar uma ducha e relaxar fazendo qualquer outra coisa. Não tô aqui tentando fazer uma "evangelização" sobre os benefícios da corrida e não vou falar pra vocês comprarem um tênis com umas trinta cores difentes e que custa no mínimo uns quinhentos paus. Tô só, como sempre, aproveitando o espaço pra falar um pouco mais sobre mim, sobre o que me acalma e o que me faz gastar algumas horinhas da semana - além de também render algumas histórias boas, tipo dia desses, que eu sai pra correr aqui perto de casa à noite, um cara DO NADA começou a correr do meu lado, me deu um medão absurdo, eu tive que dar um pique, o cara continuou me seguindo e, quando eu tava na esquina de casa e já tinha decidido parar pra enfrentar o babaca (e, se preciso fosse, gritar mais que a Syndel), ele só mandou um "Moça, sua CNH caiu, tava tentando te devolver!" (babaca, né? Puta merda, eu tava de fones, ouvindo minha playlist pra correr feito a Phoebe, ele não poderia ter BALANÇADO O DOCUMENTO FEITO UMA POLAROID pra eu ver que ele não tava tentando me assediar?). Enfim, ISSO É OUTRA HISTÓRIA. 

Então, pra moça do Terapia em Blog que pediu um post sobre corridas, ei-lô aqui! hahaha
Espero não ter decepcionado se você esperava algo cheio de dicas, referências, instruções pra começar a correr e tal... Sair pra correr, como praticamente tudo o que eu faço simplesmente porque gosto de fazer, geralmente envolve zero planejamento da minha parte. Eu só vou lá e faço: Boto umas musiquinhas legais, corro por meia horinha, penso numas babaquices que me deixaram destemperada durante o dia e pronto cabô. 

Eu só torço pra que vocês, assim como eu, tenham ESSA COISA que permite que vocês voltem ao equilibrio e que, de preferência, não seja pré-programado tipo futebol, F1 ou minhas visitas eventuais ao litoral de São Paulo. ♥

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