Mini Romance 6 - Tudo é mais complicado quando você tem sete anos

Deve ser porque de repente, de um dia pro outro, até os seus dentes te deixam na mão e caem. Você não entende nada e não confia em ninguém. É complicado ser criança. Comigo não foi diferente.


Eu gostava desse mocinho (Acho que ele foi a minha primeira paixonite. Aos sete anos) que se chamava Paulo (Paulinho, porque desde aquela época ele já era - inho*). O Paulo estudava comigo na 2ª série e sentava na minha frente, na segunda carteira da terceira fileira da porta**. Era o mais próximo que eu podia chamar de amigo na época que eu exigia muito pouco das minhas amizades: Me dava freegels, corria pra pegar lugar na fila da cantina pra mim enquanto eu guardava o lugar no Minhocão*** pra ele, trocava tazos comigo, sempre pedia o meu caderno pra copiar a lição de casa... Enfim. Foi meu primeiro melhor amigo e minha primeira paixonite.

Acontece que nessa época minha mãe me pegava todos os dias na escola... E, num dia qualquer, eu vi minha mãe conversando com uma moça enquanto me esperava e - 'cês imaginem a minha supresaquando descobri que a moça que estava falando com minha mãe ERA A TIA DO PAULINHO. Lembro que rolou um mini diálogo:

Tia do Paulinho, pra mim:"Você que é a Bia?”.
*eu balanço a cabeça. Era uma criança tímida*
Tia do Paulinho: "Esse é meu sobrinho, o Paulo. Ele tá no mesmo ano que você”.
Paulinho: "Ela tá na minha sala, tia!”.
Ai a tia do Paulinho fez uma cara de entendida e disse: "AH! ENTÃO ESSA É QUE É A BEATRIZ?" *e vira pra minha mãe* "Sua filha é bem comentada lá em casa...”.
minha mãe: "Aaaah! O Paulinho também é! É com ele que você troca tazo, não é?”.
*eu só balanço a cabeça*

E depois abstraí né, que a Tainá, minha amiga na época tinha se juntado ao grupinho e eu tava com pressa de ir embora pra assistir Cavaleiros do Zodíaco. Só que naquele dia uma coisa esquisita aconteceu: Eu reparei que o Paulinho era IGUAL ao Seiya. E que, pela primeira vez desde que CDZ tinha começado a passar, eu não tava torcendo pro Aldebaran arrancar a cabeça do Seiya com o chifre - o que era bem estranho levando em conta que eu odiava o Seiya desde sempre. Mas passou. 

No dia seguinte, enquanto eu mostrava o meu Chicorita dos mini pokémons do Caçulinha, o Paulinho disse que se eu fosse um Cavaleiro do Zodíaco eu seria a Shina. E foi ai que eu comecei a gostar dele (porque até mesmo uma criança de sete anos percebe o quanto é legal ser chamada de Shina!).
Claro, nunca falei nada. E a gente seguiu sendo amigos por todo aquele ano (saudoso 1997), com episódios memoráveis como quando a gente decidiu fundar um CRUJ  (Comitê Revolucionário Ultra Jovem, pra quem é 9inho e não sabe do que eu tô falando)... Ou quando a gente ia brincar de barra manteiga no intervalo (meninos x meninas) e ele sempre me escolhia e sempre me deixava pegá-lo****  e sempre passava o resto da brincadeira do lado do time das meninas conversando comigo.

Mas é tudo mais complicado quando você tem sete anos. Eu já disse isso?

Toda sala de aula que se preze tem uma menina por quem todos os caras vão se apaixonar. Como eu sempre fui sortuda, na minha tinham duas: A Ana e a Paula. São sempre loiras e sempre tem uma lancheira da Barbie. A Ana tinha cabelos cacheados e olhos verdes, a Paula tinha cabelo liso e channel e olhos azuis. As duas eram melhores amigas, tipo a Barbie e a Tereza, só que nenhuma delas era a Tereza porque obviamente eram duas Barbies. 
Eu era gordinha, usava óculos da Minie e tênis do Sonic (e minha lancheira era do Tails *.*) e não preciso dizer que eu, do alto dos meus 7 anos, comecei a achar que Paulinho estava a fim da Ana... E que isso foi o fim, né?
Não preciso porque é mentira. Foi o fim do CRUJ, o fim de brincar de tazo e o fim de brincar de barra-manteiga... Mas eu gostei dele da segunda até a quinta série. E fui várias vezes em festas na casa da tia dele (com minha mãe) e ele sempre estava lá e nós sempre brincávamos no Pula-Pula cheirando a peido... Mas nunca mais teve a amizade de bater tazo e mostrar pokémon e, lá por volta da quarta-série, a gente nem se cumprimentava mais no corredor. 

A vida é complicada pra quem tá saindo da primeira infância. De repente o cara que me chamava de Chiquinha quando eu perdi o dente da frente, que falava que já que eu usava o tênis do Sonic eu tinha que ter algum tipo de habilidade e que  era cinco centímetros mais alto que eu virou um anão, parou de crescer e de me cumprimentar nos corredores.
O tempo passa, o tempo voa, eu troquei meus tênis do Sonic por All star... Conheci o Sem-Amor-Próprio***** e, num dos dias que eu estava com ele (isso já no 1º pro 2º colegial) ele vira e me diz: "Sabe o Paulinho?" "Sei" "Então... Você sabia que ele foi apaixonadão por você da segunda série até o ano passado quando você saiu da escola?”.

E não. Eu não sabia. Eu sequer imaginava.
E acho que a vida é uma filha da puta. Essa é a moral da história.
Essa e o fato de que eu sempre me fodi, desde sempre, por não falar pro cara que eu gosto dele.

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Notas
* preciso dizer que esse não é o nome dele?
** não que minha memória seja linda. Ela é, mas isso eu lembro porque tenho anotado num diário.
*** Estudei num colégio que os alunos subiam em fila única (divididos por sexo) pras salas depois do intervalo. Alguém em um momento inspirado chamou essa fila de Minhocão.
**** Eu sempre fui gordinha. Sempre usei óculos. Sempre odiei E.F. O Paulinho sempre foi magro, baixo, rápido e ponta de lança nos jogos de futebol. Por isso era memorável quando eu conseguia pegá-lo.
***** Apelido maldoso que eu dei pra um moço errado com quem eu saí, um dos primeiros, antes mesmo do primeiro namorado oficial.


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