It's a love story, baby, just say yes

Minha bisavó, mãe da minha avó materna, conheceu meu bisavô quando era uma criança. Mesmo.
Ela tinha 13 anos e ele 18. Se apaixonaram, passavam muito tempo juntos e era difícil separar os dois, por mais que os pais dela tentassem. Vendo que não tinha outro jeito, meus tataravós falsificaram os documentos pra minha bisa poder se casar - e a gente não sabe até hoje quantos anos de verdade a minha bisa tem.
Eles passaram quase 50 anos juntos, tiveram 13 filhos e só se separaram quando meu bisavô morreu. Minha bisa, ainda viva e beirando os 100 anos, diz que ele foi o grande amor da vida dela e que nunca mais se apaixonou depois que meu bisavô morreu.


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Minha avó, mãe da minha mãe, era o tipo de garota que já tomava a iniciativa com os garotos e achava a coisa mais normal do mundo isso acontecer. Ela nasceu em 1940.
Meu bisavô, que era ferroviário, ficou preocupado com o fato dela ser "liberal" desse jeito e a levou para morar em Santos, com uma irmã da minha bisavó. Lá, minha avó se envolveu com um homem casado.
Quando meu bisavô descobriu, pegou o primeiro trem e decidiu levar minha avó de volta pro interior. Ele falava que "se a desgraça vai acontecer, que pelo menos eu esteja por perto". No caminho de volta minha avó conheceu o ajudante do maquinista, um "malandro carioca que era do interior de São Paulo" (palavras dela) e disse que nunca se divertiu tanto numa viagem que era pra ser punitiva quanto se divertiu naquela.
Duas semanas depois esse "malandro carioca que era do interior de São Paulo" pediu permissão para namorar a minha avó para o meu bisavô. Seis meses depois eles estavam casados.
Meu avô era alcoólatra, mulherengo e minha avó não levava desaforo pra casa. Tiveram brigas históricas (incluindo uma em que meu avô, bêbado, chegou na casa deles, usou o banheiro de um jeito todo errado e ela, que tinha acabado de limpar a casa, jogou toda a sujeira que ele tinha feito NELE e o botou pra dormir no quintal, e uma em que foi buscar meu avô no bar e, como ele se recusou a ir embora, se sentou do lado dele e o venceu numa competição pra ver quem bebia mais). Apesar de todas as brigas, tiveram seis filhos e os dois nunca deixaram de estar lá um para o outro e a se tratarem com o maior carinho e bom humor. Minha avó segurou o rojão até quando meu avô teve um derrame e ficou paraplégico. Foram felizes e ficaram juntos até o final. Meu avô foi primeiro e, depois que ele morreu, minha vó foi indo embora aos pouquinhos, até morrer alguns anos depois. Lembro que uma das últimas coisas que ela me disse foi que ia embora com o nego dela.



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Minha mãe conheceu meu pai quando tinha 15 anos e foi com minha tia (e melhor amiga dela) ver o meu pai se formar no quartel. Minha tia conta que, mesmo antes de saber quem era o meu pai, minha mãe apontou pra ele no meio dos soldados e disse que ia se casar com aquele moço um dia.
Meu pai não podia ligar menos para a existência da minha mãe: Ele era o descolado da galera, o líder do bando de amigos, jogador de futsal e muito gato (Tinha uma namorada em cada esquina, mais ou menos). Minha mãe era a filha mais velha de uma família pobre e ajudava a minha avó com as encomendas de bolos e salgados que ela fazia, bem como na entrega da roupa que minha avó lavava e passava para a vizinhança.
Eles não tinham como ser mais diferentes.
Quando minha mãe fez 18 anos começou a namorar com um moço (que hoje é pai de uma moça que estudou comigo e com quem andei muito por uns tempos) e meu pai ficou com ciúmes. Minha mãe tinha virado o jogo pela primeira vez na vida e depois nunca mais deixou meu pai ganhar umazinha sequer: Ela terminou o namoro, mas fez meu pai terminar com TODAS as moças, e ele andou na linha pra, finalmente, conseguir uma chance de sair com minha mãe quando ela tinha quase 20 anos.
Eles se casaram quando ela tinha 21 e ele 25, em 1986.
Em 1988, minha mãe engravidou e fez milhares de planos. Minha irmã mais velha, que nasceu parecida com minha mãe (e tinha os olhos azuis do meu avô materno, segundo relatos) e no dia do aniversário da minha tia (que seria madrinha dela) , faleceu no dia do aniversário do meu pai, um mês depois. Ela nunca chegou a sair do hospital.
Não era pra minha mãe ter engravidado, muito menos tão rápido quanto ela engravidou.
Eu nasci em dezembro de 1989, coincidentemente três anos depois daquele dia que, em 1986, meu pai prometeu pra minha mãe que ia fazê-la feliz para sempre e que iam passar juntos por todas as dificuldades que surgissem no caminho.


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Três gerações de histórias de amor que dariam um filme do Nicholas Sparks.
É por isso que eu não reclamo quando as pessoas da minha família perguntam "e os namoradinhos?" nos eventos familiares: Eles estão esperando a próxima grande história de amor que vai surgir.
Mas eu tenho a impressão que serei a primeira mulher desse lado da família que vai ter uma vida amorosa que daria uma comédia, não um romance.
Vamos acompanhar isso aí pra ver como vai rolar.

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