30 dias de carta (11)

Dia 11 - Uma pessoa falecida com quem você gostaria de conversar


Osasco, 17 de dezembro de 2015.

Vô Duarte, vó Isa, vó Jacy e vô Rui,

Toda vez que eu paro pra pensar na história da casa da Frei João (a MINHA casa), eu sempre acabo pensando em vocês e em como é engraçado que, em épocas diferentes, por motivos diferentes, vocês quatro tenham morado aqui. E, além disso, como é engraçado que essa casa tenha despertado tanto amor nos meus pais a ponto deles terem decidido se mudar pra cá e construir a vida deles aqui. Vôs, 'cês tem noção de que essa casa, onde eu moro há 20 anos, está na história das duas famílias há pelo menos 60 anos?
Eu penso nessas coisas e lembro de vocês porque fico imaginando o que fez vocês virem parar aqui, e se gostaram tanto dessa casa quanto eu gosto. Eu vi uma foto antiga da viela, da época em que eram a vó Isa e o vô Duarte que moravam aqui, e percebo o quanto esse espaço já mudou em todos esses anos. A casa tem meio que a personalidade da gente, né?
Quando era a casa dos avôs paternos as coisas eram tudo acumuladas, apertadas, difíceis - a casa era grande, mas a família MAIS AINDA - tanto que fizeram até um "puxadinho" no quintal pra ela aumentar e caber todo mundo... Quando era a casa dos avós maternos tinha menos gente, mas a sensação de aperto era a mesma (vocês vieram aqui porque não tinham outra opção pra ir, e ainda acolheram o meu pai, que na época já namorava a minha mãe, porque ele também não tinha. O vô Duarte e a vó Isa já tinham falecido, mas tenho certeza que agradeceram pelo que fizeram pro filho deles)... O quanto essa casa foi importante pra história das nossas famílias, vocês já pararam pra pensar?

Em 1996 a gente se mudou pra cá, meu pai, minha mãe e eu, e em 1997 a vó e o vô, junto com a Tia Dri e o tio Sid, irmãos ainda solteiros da minha mãe,  vieram junto pra morar no "puxadinho" do quintal. Em 2004, depois que a vó Jacy e o vô Rui já tinham falecido, a gente fez a última mudança significativa daqui: Derrubamos o "puxadinho" e ficamos com um quintal gigantesco, que enchemos de frutas. Era pra apagar as lembranças e tornar a perda menos dolorida, mas também serviu pra deixar a casa mais parecida com o nosso jeito: Quintal grande, cachorros, rede e tudo o que a gente precisa pra não sair de casa porque aqui é bom demais.

Vôs, eu queria agradecer. Não sei o porquê vocês vieram pra cá, mas por algum motivo isso serviu pros meus pais se apaixonarem o suficiente por essa casa pra decidirem fazer a vida deles aqui. Esse amor já me contagiou, vôs. Essa casa vai ser minha um dia e eu vou continuar falando dela pra todo mundo, lembrando o quanto ela já mudou e quanto amor já passou por aqui. É tudo por culpa de vocês e eu agradeço demais.

Um beijo e um dia a gente se vê.
Beatriz

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