I was born a child of grace

Eu nasci em uma quarta feira de dezembro de 1989.
O Brasil se movendo com a campanha Lula x Collor, o mundo vendo os EUA invadir o Panamá pra capturar o Noriega... E, na minha casa, naquela manhã, nada disso importava.
Nasci magra e pequena: 47 cm e 2,820kg e tinha muito cabelo: Cabelos lisos e castanhos claros que mudariam mais tarde, mas já com os olhos castanhos escuros que me acompanham até hoje.
Eu não fui o primeiro neto dos meus avós, mas fui a primeira mulher - e, por vários contextos que se delineavam na época, eu seria a primeira a ficar constantemente com meus avós e tias ainda solteiras.
Fui criada pelos meus avós, sempre na Vila dos Remédios. Minha mãe me levava de manhã cedinho, antes do trabalho, e meu pai me pegava a noite, quando saia. Todo o tempo entre isso eu passava debaixo da asa da minha vó, ocasionalmente cutucada pela tia que tinha quase a minha idade e vivia enciumada e pela tia mais velha, que se mostrou ser ainda mais superprotetora que minha mãe... E, obviamente, na maior parte do tempo lambuzada de chocolate por causa do meu avô.

Quando eu fiz quatro anos minha mãe decidiu me pôr numa escolinha, mas não deu muito certo: Eu era mais nova e, até aquele dia, não tinha tido muito contato com crianças da minha idade: Eu só tinha um primo, que era quase meu irmão, e a gente se via tanto que era como se ele fosse uma extensão minha, quase não contava. Nessa escolinha eu fui mordida no primeiro dia, coberta com areia do parquinho no segundo e tive minha calça arrancada no terceiro. 

No quarto eu já não fui e minha avó assumiu o controle dos meus primeiros contatos com a educação: Entre letrinhas recortadas e receitas mirabolantes que envolviam a terra do quintal mais as folhas da árvore gigante eu aprendi a ler.
Aos cinco, minha mãe decidiu tentar de novo: Me colocaram num colégio católico, onde eu finalmente me adaptei e fiquei até os 15 anos, quando me mudei para um colégio melhor a fim de fazer o colegial.

Quando eu não estava na escola passava o tempo entre o apartamento de uma tia e a casa da minha Tia-madrinha, onde eu brincava com aquele que eu considero meu irmão: O primo que é filho dos meus tios-padrinhos e um ano mais velho que eu.
Foi com ele que aprendi a jogar videogame, a brincar de bola, a andar de bicicleta, a empinar pipa... Era junto com ele que eu deitava no chão da casa da vó pra assistir Cavaleiros do Zodíaco e Tom e Jerry.

Eu sou filha única. Meus pais tiveram uma filha antes de mim, que nasceu no dia do aniversário da minha tia e morreu no dia do aniversário do meu pai, com apenas um mês. Eu não estava nos planos, não fui planejada. Vim precocemente, quando minha mãe ainda não estava em condições de engravidar, e toda a gravidez foi alvo de muitos cuidados. Depois de mim, minha mãe não pode mais ter filhos. E, de acordo com meus pais, eles deram a sorte de ter uma filha tão bacana que não precisaram se preocupar com isso.
Sorte a minha, sorte a deles.

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