We needed to unwind I guess nothin' can last forever - forever, no

Uma das pessoas que eu mais detestei na minha vida, odiozinho esse que durou ali dos meus 15 aos 20 (não coincidentemente o mesmo tempo que meu primeiro namoro) foi uma moça, também chamada Beatriz, que tinha sido “a Beatriz” do meu ex namorado antes de mim.

“Aiiiin, você odiava a moça porque ela era a ex do seu ex?”

Então. Sim. E não. Era mais complexo que isso porque eu odiava a moça, mas ela NUNCA TINHA SIDO EX DO MEU EX. No máximo BFF.

“Cara, então você era muito ridícula, 'cê me desculpe”

Desculpo sim, porque eu era adolescente e tinha o direito de ser ridícula – direito esse que aproveitei de todas as maneiras possíveis e fazendo o máximo de coisas ridículas possíveis. Mas agora eu acho que tô tentando não ser mais tão ridícula, pelo menos não nesse aspecto e, enfim… Vida que segue. Vamos voltar ao que importa.



Eu detestava essa moça. Eu detestava a EXISTÊNCIA dessa moça. Eu detestava a IDEIA de que DUAS PESSOAS um dia TRANSARAM e, DESSA TRANSA ESPECÍFICA, nasceu essa moça. Eu detestava a moça um tanto que, pra mim, era inconcebível que os pais dela, depois de terem transado e viram o que saiu daqueles 15min (ou menos), ainda repetiram o ato a ponto de fazerem mais uma criança que eu - por incrível que pareça – achava bem daorinha apesar de tudo (a irmã mais nova dela era bem legal).



Pois bem.

Na oitava série, meu ex namorado e eu saímos do nosso antigo colégio de padres e fomos pra uma ETEC aqui perto de casa. Lá, a gente se conheceu e virou amigo e depois, obviamente, namoramos.

Tinha essa moça do antigo colégio de padres, minha xará, que tinha sido a melhor amiga do meu ex e de quem ele tinha sido príncipe na festa de debutante. Essa moça, que daqui pra frente eu chamarei de BIA DO MAL, era a personificação do mal (digamos que eu tive uma infância muito boa e não tive muito com o que me preocupar, daí as minhas perspectivas sobre o bem e o mal, ou sobre o que era bom ou ruim, não eram necessariamente muito amplas e práticas). No dia que eu comecei a namorar e fui conhecer os amigos do meu ex, lá estava ela, me olhando com aquela cara de furiosa. E lá estavam os amigos do meu ex, me olhando e olhando pra ela com cara de “iiiiiiiiih vai morrer!”. Nos dias seguintes ao que eu comecei a namorar, ela começou a dar sistematicamente em cima do meu ex (na época ainda) namorado.

Era desde um scrap com “oiii amorzinho” que ela NUNCA ANTES TINHA MANDADO antes da gente mudar o status no orkut, com umas coisas mais diretas tipo “vi um moço que parecia muito com você no clube hoje, na piscina, era assim bonitão feito você” e passando pelo “nhaaaain, você não gosta mais de mim, só gosta da sua Bê agora”, com eventuais trocas de scraps e diretas muito diretas com as amigas dela que eu só ficava sabendo que existiam porque – isso mesmo – eu stalkeava (nunca fui santa).

Ai tinha essa moça e era “tinha” mesmo, porque embora eu nunca tenha falado “ou ela, ou eu” o meu ex namorado certa feita meio que ficou comigo porque ela era realmente um pé no saco e parou de falar com ela. Mas o ódio meio que continuou, sabe? Dos dois lados.

Eu me comprometi a parar de stalkear e nunca mais falar com a moça, mas por vários motivos a gente continuava sabendo da vida uma da outra (a prima da minha melhor amiga psicopata era melhor amiga de uma das grandes amigas dela e uma grandecíssima fofoqueira). Numa dessas eu descobri que o namorado da xará (namorado esse que eu carinhosamente chamava de Robocop) a havia traído.

E foi aí que tudo mudou.

Não, a gente não virou amigas. Não, ela não pegou meu ex. Não, não teve um momento de revelação feminista em que eu percebi que nós, mulheres, não devemos brigar por caras já que obviamente nenhum deles vale a pena e a sociedade patriarcal quer mesmo que a gente brigue, de preferência numa banheira de lama.

Mas, quando eu soube que ela tinha sido traída, eu me coloquei de verdade no lugar dela. Eu saquei que aquela pobre alma infinitamente inferior a mim (eu era realmente uma pessoa horrível, né?) tava perdendo a chance maravilhosa dela de ter alguém, já que o cara que ela queria (meu ex-namorado) já era meu.... Tá, não. Desculpa. Eu NÃO me coloquei no lugar dela. Eu simplesmente achei que era uma bosta o namoro dela ter terminado porque agora ela ia voltar a dar em cima do MEU namorado e, cara, as coisas tavam ficando tão boas sem ela dando em cima do meu namorado. Que bosta que o namorado dela era um bosta. Aff.

Até que eu soube que... Ela tinha voltado com o cara. E aí DE VERDADE as coisas mudaram. Porque eu parei de desgostar dela pra sentir algo que era uma mistura de incredulidade com pena.

“Eu não acredito que ela voltou com esse mocorongo que a traiu! Sério!” “Meu Deus, coitada dessa menina!” “Sério, que menina burra, ela consegue alguém infinitamente melhor que o Robocop!” “Ela deve gostar demais desse cara, puta merda, que dó!” “Eu nunca me sujeitaria a voltar com um cara que me traiu, vsf!” - Rolou até um post no antigo Lado Bê onde eu meio que escrevia sobre isso, só que sem citar diretamente a história dela. Meu ex namorado ficou bem bolado achando que eu tava falando da gente, até (E jurou que jamais me trairia, hahahahahaha.... mas aí já tô dando spoiler).

Daí quando eu acho que a pessoa é digna de pena, meus amigos... 'Cê esquece qualquer outro sentimento porque essa pessoa vai meio que virar quase um mascotinho da piedade pra mim. Eu quase nunca vou pensar nela, mas, quando pensar, vai ser com… Piedade. Acabou ódio.
A Beatriz de 17 anos (a Lourenço, não a outra) desencanou totalmente daquela moça quando ficou comprovado que ela gostava demais do cara que a tinha traído pra aceitar a humilhação de continuar com o cara mesmo depois de ter sido traída. Vida que segue.

Três anos depois, quando EU fui traída e EU gostava demais do cara (o primeiro namorado ainda, né?) a ponto de me humilhar e pedir pra voltar, dizer que a gente podia passar por cima de tudo, que nosso namoro ia dar a volta e blábláblá... Eu lembrei dessa moça e de como eu a tinha julgado por coisa do lance de ter voltado com o cara.


“Então aí rolou a virada feminista, né? Aí você descobriu que julgar os outros é feio, que ninguém sabe a dinâmica de um casal além do próprio casal e tal, né? Aí vocês viraram amigas?”


Err... Não.

Aí eu fiquei com raiva de mim mesma por estar me colocando na mesma posição de alguém que eu detestava (o odiozinho fez uma pequena aparição nessa época) e aí bloqueei o ex namorado de todas as redes sociais possíveis, nunca mais atendi nenhuma ligação dele, pedi pros meus pais dizerem que eu tinha ido passar uns tempos na casa da minha bisa (porque foi nas férias mesmo o fim do namoro, foda-se) e mudei o caminho pra minha casa pra nunca mais passar na frente da loja da irmã dele (que ficava bem na minha rua, fiz um puta desvio naquela época, aff) e entrei numa fase meio PORRA LOUCA de fazer umas merdas aí que eu até hoje me arrependo um pouco de ter feito.



“Tá, e qual é a liçãozinha disso tudo?”


Então. Várias.

1. Eu fui uma adolescente bem insegura, idiota e ciumenta, embora eu tenha guardado tudo isso pra mim por tanto tempo e de tal jeito que o meu ex namorado me chamou de “Fria e sem sentimentos” e disse que eu “nunca tinha gostado dele” quando a gente se falou pela primeira vez depois do término (quase um ano depois, quando a minha raiva passou e eu desbloqueei) – e aí eu meio que mandei o cara se foder porque (talvez a raiva não tivesse passado totalmente) cara, eu JAMAIS teria perdido cinco anos da minha vida com alguém de quem eu não gostasse. Eu podia ser fria que nem pé sem meia numa noite de inverno, mas eu nunca, nunca, nunca fui burra. Não por tanto tempo.

2. Eu entendo gente que perdoa traição, embora eu não tenha essa inclinação bondosa a perdoar traição e sempre seja bem rígida com meus amigos toda vez que algum deles faz uma merda dessas. Depois que eu fui traída pela primeira vez eu decidi que NUNCA iria trair ninguém, e sigo sendo fiel a esse princípio até mesmo em alguns casos quando não rola especificamente o tratado de fidelidade – até porque eu não sou uma máquina do sexo e dos relacionamentos que precisa sair com 30 pessoas ao mesmo tempo e trepar com 5 (Não ao mesmo tempo) pra ficar feliz.

3. Eu nunca, nunca, nunca, vou ficar amiga de alguém que deu em cima do meu namorado na época em que eu namorava com ele. Não importa o quanto eu tenha virado feminista, não importa o quanto eu tenha deixado a adolescência pra trás, não importa o quanto o plot de “John Tucker must die” pareça interessante. Nunca. Não é questão de birra infantil, mas é que eu sinceramente não sei se quero ter alguém que não respeita o relacionamento alheio na minha vida.

4. Toda vez que eu atravesso (e é sempre sem querer), o relacionamento de alguém, me bate uma culpa incrível e eu me retiro mais rápido que piscadinha de borboleta (nesse momento me veio a história do moço por quem eu me derretia toda só porque ele era baiano). Eu não quero ser essa pessoa que interfere no relacionamento dos outros. Mesmo. Nunca. Se eu for, me fala que eu paro, peço desculpas e fico longe. Sério.

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