No one in this world knows me better than you do so diary I'll confide in you


Pra quem não sabe eu escrevo em diários desde 2001 quando eu estava na sexta série. Antes disso tive algumas tentativas, mas sempre foram interrompidas. Sério mesmo, sem parar, indo do começo ao fim de um caderninho, comecei em 2001.

E, quando eu tô numa cilada, eventualmente paro pra ler os diários antigos e ver o que eu fiz pra resolver as ciladas, ou pelo menos ver que o que eu achava que era uma cilada gigante não passava de um grande drama que eu resolvi E SOBREVIVI. 
Hoje vou mostrar algumas páginas dos meus diários antigos aqui :D

Tudo começou com esse caderninho azul aí do lado.
Eu ganhei de aniversário de um dos amigos dos meus pais que aparecia de papagaio de pirata nas minhas festas e só lembro disso porque ele me deu também um monte de canetas.
Já começo dizendo que desde aquela época era fácil me agradar, porque eu AMEI o caderninho e amei as canetas porque até então eu só tinha as coisas da escola e não gostava muito de usar em casa.
Era um desses caderninhos simplões de capa dura e folhas pautadas, onde eu TENTEI colocar meu nome na capa e - obviamente - não deu certo porque a caneta bic não pega nesse plástico que tem e eu não sabia disso. Eu comecei em março de 2001.

Em 2001 eu era apaixonadinha por um menino que ainda não virou mini romance aqui, mas foi o responsável pela minha primeira declaração romântica (que foi em forma de cartinha). Meus maiores problemas eram: Acordar cedo para a aula, lidar com o fato de que o menino que minha amiga gostava era afinzinho de mim e lidar com o fato de que eu gostava de um menino que NÃO gostava de mim.
Ou seja: Nenhum dos três era um problema difícil já que eu morava há 5min de caminhada da escola, o menino nunca fez nenhum movimento pra confirmar que gostava de mim e eu nunca sofri represália nenhuma por me declarar para o menino que eu gostava (que TRÊS ANOS DEPOIS virou pai de um filho que - claro - não era meu). 
Minhas maiores alegrias em 2001 envolviam: Não ter que ir pra aula, ficar sozinha em casa (pra fazer o quê eu sinceramente não lembro, já que não tinha internet. Eu acho que ficava brincando de Lego e jogando videogame, não sei) e cuidar da Anne (eu escrevi o nome dela errado), minha priminha.
Hoje essa criança tá UMA CAVALONA de 18 anos pra quem eu já falei "Olha, se você for transar não esquece a camisinha. Se diverte sim, mas com responsabilidade" e já indiquei app pra controlar ciclo menstrual no celular.




SOCORRO. Eu não tinha me dado conta disso até escrever. hahahaha
Na última página eu coloquei um aviso que NESSA ÉPOCA em especial nem foi muito necessário porque eu não levava o diário pra escola e ele ficava escondido embaixo do meu travesseiro (como é que eu conseguia dormir com um LIVRO embaixo da cabeça é um negócio que eu me pergunto até hoje. Deve ser porque as minhas preocupações eram aquelas ali de cima e eu dormia feito pedra em qualquer lugar e de qualquer jeito), mas que eu coloquei em TODOS os diários da oitava até o terceiro colegial porque eu levava pro colégio e morria de medo de alguém pegar meus diários, então isso era uma espécie de "Disclaimer" pra todo mundo ficar sabendo que o que eu escrevia ali era coisa de momento e  se preocupar com isso era uma tremenda sacanagem.
"Tipo um desabafo".
Bom, acontece que as minhas "AMIGAS" da época do colegial sequestraram um dos meus diários - que era muito menos inocente que esse daí, já que eu era adolescente e adolescente só pensa e faz merda - e ele acabou indo parar na mão da inspetora de alunos, que não apenas LEU o meu diário inteiro como repetiu algumas partes para os professores.
Muito legal ter "amigas", né?
Nem vou falar muito porque essa história acho que ensinou algumas lições importantes ("não deixar os outros lerem o seu diário" não foi uma delas já que, até o cursinho, meu diário era lido por pelo menos mais uma amiga) que eu acho que posso compartilhar em algum momento.


Vale dizer sobre essa época também que não existia SHAZAM, nem internet, então quando eu gostava de uma música - que eu conhecia provavelmente assistindo o Disk MTV - eu anotava o nome delas na última página do diário pra não esquecer.
E em 2001 eu tava começando a fazer aulinhas de inglês, então era tudo novo (e muito errado).
Aliás, mamãe fala que no tempo dela as pessoas tinham que GRAVAR MÚSICAS DO RÁDIO EM FITAS K7 que nem os neandertais faziam, mas vocês que nunca tiveram que copiar o nome e a letra da música enquanto subiam os créditos do clipe no DISK MTV tem a vida fácil demais.
Eu jamais saberei qual música do "Charli Brow" eu estava procurando na época, e provavelmente tive grande dificuldade em descobrir quem era o "Shaddel" (Shaggy) que cantava Angel por não ter escrito o nome correto.

O porquê de eu ter anotado coisas sobre o Rappa e Sepultura eu também não entendo, já que ainda não era a minha fase R3B3LD3 de ouvir Rock e odiar os Estados Unidos por serem imperialistas desgraçados que fodiam a nossa vida.

Nada como crescer, né?





Na sétima foi a época da Maura, e na oitava série eu conheci duas meninas que também escreviam em diários e, por isso, comecei a levar os meus para o colégio. Nesse caso a apresentação deles tinha que ser melhor, então eu comecei a "customizar" minhas próprias capas:






 

 


Óbvio que eu não tinha muito talento. Hehe

E aí ao longo do tempo eu fiz várias tentativas de escrever de jeitos diferentes:



Em 2005 eu tentei usar agenda (e não deu muito certo porque o espaço era pequeno).



Em 2006 meu (na época) namorado me deu um diário tradicional, que eu NUNCA abri porque ele era muito fofo e fiquei com pena de usar (dsclp por nunca ter te dito que não usei, btw).


Tentei também por um tempo em 2006 manter um diário "coletivo" com minha melhor amiga, onde cada uma escrevia uma página e falava de uma coisa. Não deu certo também (porque parei de falar com essa amiga antes do diário acabar rs).



E atualmente, "crescidinha", eu uso caderninhos tipo moleskine na maior parte do tempo. São mais caros, mas não são feios - e cabem nas minhas bolsas. O tamanho varia entre A5 e 13x9, nunca tem mais de 100 páginas (porque senão eles ficam muito grossos e estou ficando sem espaço pra guardar).


O que mais mudou nesse tempo todo que escrevo foi O JEITO como eu escrevo. Recentemente eu descobri que eu faço um lance chamado ART JOURNAL, que é basicamente um diário com "arte" e "reflexões"  (dã). Tentei por um tempo ser mais organizada usando um BULLET JOURNAL (ou #bujo, para os íntimos), mas essa não é minha praia. O máximo de organização que eu consigo ter é marcar as coisas na agenda do google (e colocar alarmes) e, em casos MUITO IMPORTANTES, anexar um post it no meu diário mesmo e cabô.
Art Journal é mais meu estilo porque eu não conto tudo o que aconteceu no meu dia de um jeito linear, eu pego uma história e vou até o fim, geralmente nem é em ordem cronológica, e pra não deixar TEXTO-TEXTO-TEXTO eu desenho, faço colagens e coloco alguma coisa que eu acho que tem a ver com o "tema" proposto.

Tipo quando eu tava apaixonadinha e coloquei COLDPLAY numa página inteira.



Ou quando eu usei Grandes Sertões Veredas porque sim.

Ou quando eu fiz uma colagem com os caras que eu acho bonitos (na época que eu tava saindo com um cara feio e estava em dúvida sobre o meu gosto para homens)

Ou quando eu apresentei mais um capítulo da série de erros que é a minha vida (brinks, drama)

Os temas "vareiam" conforme o humor e da pessoa de quem eu estava falando (porque É ÓBVIO que eu não falo apenas de quem eu gosto).



Pro aniversário do meu pai (que, aparentemente, caiu no meio do carnaval nesse ano) eu até coloco fotos nossas.


Pra falar do Monge eu usei prints do Facebook e do Messenger.

Pra falar do Kimi eu uso humor (risos).


Aliás, o Kimi é um assunto frequente no meu diário porque (tirando meu pai) é o homem mais constante na minha vida desde 2001.

Já foi arte de capa.

Já foi um protesto irônico sobre minha vida amorosa.

Já foi meu spirit animal.


E é basicamente isso. Eu escrevo quando não posso falar, quando não tenho pra quem falar, quando as coisas não estão claras a ponto de eu CONSEGUIR falar com alguém sobre elas. Eu boto no papel, boto em ordem e aí depois me expresso - ou não, porque de vez em quando eu não falo sobre grandes coisas e grandes assuntos que merecem ser mencionados.

Porque meus peitos...

...O fim das férias...

...Ou acordar cedo por pura burrice...

...Não são grandes temas que merecem ser mencionados, mas me ajudam a passar o tempo.

Ou me distraem das grandes coisas que eu não estou falando sobre.

Mas a maioria das vezes escrever sobre banalidade só adia o momento em que as coisas que eu tô evitando vão sair tudo de uma vez.


Resumindo, escrever é minha primeira terapia. É o que me acalma e me deixa bem muito antes de eu saber o que era fazer terapia. Meus diários são os únicos lugares onde eu escrevo todas as verdades e todas as coisas boas e horríveis que aconteceram sem usar nenhum tipo de filtro. Eu não minto pra terapeuta, mas como quase sempre que eu vou lá as coisas já aconteceram há um tempinho já deu tempo de passar por algum tipo de análise.
Mas não nos diários: Nos diários tudo está puro e cruo do jeitinho que meu cérebro recebeu.

Como motivo bônus eu posso afirmar ainda que toda vez eu releio um diário e vejo que tive uma fase ruim eu percebo que passei por essa fase, e me dá uma sensação incrível de que eu tenho em mim todas as ferramentas necessárias pra lidar com as adversidades que a vida me impõe.

E não é que sobrevivi?

Comentários

josé disse…
que maneiro que ainda existam pessoas que escrevam em diários físicos. eu já tentei montar um,mas sem sucesso, por questões de: não tenho paciência! talvez por não poder 'editar' como fazemos aqui no blogger. e tb por achar que a todo instante alguém possa LER o que eu escrevo e depois apontar "dedos" pra mim. brruhhh,não quero nem pensar nisso que já me tremo todo. gosto de ter meu espaço na internet, reservado e privado onde somente as minhas palavras se fixam, sem necessariamente ter associada a elas uma imagem. Taí,vou tentar mais uma vez montar um DIÁRIO pra ver se perco mais esse medo de ter minha vida aberta pra qualquer um.
Emi disse…
Adorei!!!!! E sua letra é linda!! Eu também escrevi/escrevo em diários desde 2003, mas esse ano a prática foi sumariamente abandonada. De um jeito ou de outro, poder reler essas coisas é priceless. Todo mundo deveria fazer, eu acho.
Você costuma imprimir as coisas e colar? Imprime antes e deixa as imagens estocadas? Imprime na hora msm?
Bem que eu estou precisando de inspiração pra voltar a escrever assim! ^^ :***